Erdogan ordena que Guarda
Costeira impeça migrantes de cruzar o Egeu
Decisão ocorre após presidente turco
ser criticado por violar acordo e permitir passagem de migrantes com o objetivo
de pressionar a União Europeia. Tensão continua na fronteira terrestre com a
Grécia.
Migrantes tentando chegar à ilha de
Lesbos, na Grécia
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan,
ordenou na noite de sexta-feira (06/03) que a Guarda Costeira do país impeça
que os migrantes atravessem o mar Egeu, informou a imprensa turca.
A ordem ocorre poucos dias depois de um menino de
seis anos morrer após o bote em que ele viajava com a família afundar nas
proximidades da ilha grega de Lesbos.
O presidente turco vem sendo criticado por permitir
e até mesmo incentivar o movimento de migrantes na última semana em direção à
Grécia, como forma de pressionar a União Europeia.
O Mar Egeu estende-se da Grécia até à Turquia e é
umas das rotas de migração mais utilizadas na região.
"Por ordem do presidente (...) nenhum migrante
será autorizado a atravessar o mar Egeu devido aos riscos implicados",
afirmou o corpo de guardas costeiros citado pela agência de informação Anadolu.
"A prática de não intervir contra migrantes
que desejavam deixar a Turquia se mantém, mas esta nova decisão se aplica aos
que atravessam o mar, devido aos riscos de que isso representa",
acrescentou.
Os guardas costeiros turcos afirmaram que na
quinta-feira 97 migrantes foram resgatados depois que "a parte grega
desinflou três botes, deixando-os meio afundados no meio do mar".
A ordem do presidente só se aplica à travessia do
mar. Não parece ter ocorrido qualquer mudança em relação à política de permitir
que os migrantes sigam em direção à fronteira terrestre com a Grécia, onde nos
últimos dias foram registrados choques com as
autoridades fronteiriças. Neste sábado, pelo menos 1.200 migrantes,
a maioria do Afeganistão e do Paquistão, tentaram cruzar a fronteira.
Ancara e Atenas têm trocado acusações em relação
aos migrantes e refugiados.
Os turcos denunciam a brutalidade das autoridades
da Grécia contra as pessoas que tentam chegar à Europa, e os gregos acusam a Turquia
de pressionar e
auxiliar o êxodo.
Nos últimos dias, a tensão entre Ancara e Bruxelas
aumentou após a Turquia ter anunciado a abertura de fronteiras para deixar
passar milhares migrantes e refugiados que desejam seguir para a UE, ameaçando
rasgar um acordo anterior com a Europa.
Desde então, as forças de segurança gregas dizem
ter impedido 39.000 pessoas de atravessar a fronteira. A Turquia diz que o número
real é mais de três vezes superior.
A UE e a Turquia celebraram em 2016 um acordo no
qual Ancara se comprometia a combater a passagem clandestina de migrantes para
território europeu em troca de bilhões de euros em ajuda financeira.
Mas Ancara afirma que outros termos do acordo com a
União Europeia, entre eles a facilitação de vistos e o estabelecimento de
determinadas regras comerciais, não foram respeitados.
Erdogan lembrou ainda que a Turquia abriga mais de
3,5 milhões de refugiados sírios e anunciou que iria "abrir as portas” da
Europa. Ele fez o anúncio depois da morte de várias dezenas de soldados
turcos num ataque aéreo na Síria.
Na sexta-feira, o primeiro-ministro da Grécia,
Kyriakos Mitsotakis, afirmou em entrevista à CNN que o acordo entre a União
Europeia e a Turquia sobre refugiados e migrantes está "morto" por
causa das ações da Turquia.
"Sejamos honestos, o acordo está morto",
disse Mitsotakis. "E ele morreu porque a Turquia decidiu violar
completamente o acordo, por causa do que aconteceu na Síria".
O primeiro-ministro grego reconheceu que a Turquia
abriga mais de 3 milhões de refugiados sírios, mas sublinhou que "a
Turquia não vai chantagear a Europa com esse problema".
"Não fomos nós os que agravámos esse
conflito (...). Temos todos os direitos (...) de proteger as nossas fronteiras
soberanas", disse.
JPS/lusa/afp
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