Por que
países ricos do Golfo não abrem portas para refugiados sírios?
Amira
Fathalla BBC Monitoring
Milhares de refugiados sírios tentam entrar em
países europeus, fugindo da guerra civil que já dura cinco anos.
A imagem de um menino sírio de três anos morto numa
praia na Turquia após o barco em que estava com a família ter naufragado na
tentativa de chegar à Grécia chocou o mundo e chamou atenção para a crise de
refugiados e imigrantes na Europa.
Mas por que os cerca de quatro milhões de sírios
expulsos do país pela guerra não buscam asilo nos países ricos do Golfo
Pérsico, relativamente próximos e com a mesma religião dominante e língua?
Segundo a Anistia Internacional, 95% dos refugiados
sírios estão em apenas cinco países: Turquia, Líbano, Jordânia, Iraque e Egito.
A Turquia, com 1,6 milhão de refugiados sírios, e o Líbano, com 1,1 milhão, são
os principais destinos.
O número de refugiados sírios abrigados pela
Turquia é 10 vezes maior que o número de pedidos de asilo recebidos por todos
os 28 países da União Europeia nos últimos três anos.
Oficialmente, sírios podem solicitar um visto de
turista ou permissão de trabalho para entrar em países do Golfo. Mas o processo
é caro, e há a percepção generalizada de restrições veladas que dificultam, na
prática, a obtenção de vistos.
Os sírios que conseguem visto em geral já estavam
em países do Golfo e ampliam a permanência, ou fizeram o pedido por terem
familiares na região.
A dificuldade gerou críticas de organizações em
defesa dos Direitos Humanos.
"Adivinhem quantos refugiados os países do
Golfo ofereceram receber?", questionou no Twitter o diretor-executivo da
Human Rights Watch Keneth Roth. "Zero", aponta um relatório da
Anistia Internacional fazendo referência a cinco países ricos do Golfo: Catar,
Emirados Árabes, Arábia Saudita, Kuwait e Bahrein.
Bem vindos?
Sírios necessitam de visto para entrar em quase
todos os países árabes. Apenas Argélia, Mauritânia, Sudão e Iêmen permitem a
entrada sem visto.
A riqueza e proximidade da Síria levou muitos a
questionarem se os países do Golfo não teriam uma obrigação maior que a Europa
com os refugiados sírios, que sofrem com o conflito e o fortalecimento de
grupos jihadistas no país, como o autodenominado "Estado Islâmico".
Muitos citam ainda como argumento o papel que
alguns desses países tiveram na Guerra da Síria. "Em graus variados,
grupos na Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes e Kuwait investiram no
conflito sírio", diz o jornal americano Washington Post.
"Muitos bancaram e armaram uma constelação de
grupos rebeldes e facções islâmicas em luta contra o regime do presidente sírio
Bashar Al-Assad."
Mas apesar dos apelos, a posição de países do Golfo
não deverá mudar.
A tendência na maioria destes países, como Kuwait,
Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos, é permitir a entrada apenas de
trabalhadores do sudeste asiático e Índia – particularmente para postos de
trabalho pouco qualificados.
Mesmo árabes estrangeiros de qualificação média, de
áreas como por exemplo educação e saúde, dificilmente conseguem visto para
países como Kuwait e Arábia Saudita, que querem proteger os empregos de seus
cidadãos.
Residentes estrangeiros também enfrentam
dificuldades para criar vidas estáveis nestes países. já que é praticamente
impossível obter nacionalidade.
Em 2012, o Kuwait chegou a anunciar uma estratégia
oficial para reduzir o número de trabalhadores estrangeiros no país em um
milhão no período de 10 anos.
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