Guerra no
Rio? Favelas denunciam 'genocídio da juventude negra' em operações
Vladimir
Platonow / Fotos Públicas
22:21
23.08.2017(atualizado 22:40 23.08.2017) URL curta
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Após 10
dias de operações que somaram mortes de inocentes, inúmeros abusos e tiroteios,
deixando 27 mil crianças sem aulas, a Sputnik Brasil ouviu o lado das
comunidades, silenciado na mídia e na sociedade diante da ocupação das Forças
Armadas nas favelas do Rio de Janeiro.
Tomaz
Silva / Fotos Públicas
Com o aumento dos confrontos nas comunidades do
Rio, vítimas inocentes da violência se multiplicam dia após dia e os moradores
dessas áreas onde a Polícia, com apoio das Forças Armadas tem realizado
operações surpresas para combater traficantes, estão vivendo como reféns e
obrigados a mudar seus hábitos, para não se tornarem estatísticas da morte.
Sputnik Brasil conversou com
exclusividade com o secretário-geral da Faferj
(Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro),
Fillipe dos Anjos, que classificou a política do Estado em relação à favelas
como um "genocídio da juventude negra e favelada".
"A situação hoje é crítica
com essa intervenção militar que a gente está sofrendo. E a favela passa por um
processo histórico que não vem de hoje. Infelizmente esse desgoverno que
estamos vivendo hoje do PMDB optou pela opção da força, da violência na
ocupação das favelas, inclusive com o uso das Forças Armadas", afirmou
Fillipe dos Anjos.
"Mas o que vem acontecendo
nas favelas sistematicamente, considerado por diversas organizações do mundo, é
o genocídio da juventude negra e favelada, que o governo e o Estado brasileiro
não reconhece, mas é o que vem ocorrendo de forma sistemática pelo Estado
brasileiro e cada vez aumentando mais com o cenário de crise", frisou o
secretário-geral da Faferj.
Ele criticou a narrativa adotada
por alguns veículos de comunicação e pela sociedade de que há uma guerra no Rio
de Janeiro, atribuindo a violência à uma política do Estado.
"O dia-a-dia das pessoas
está muito difícil. Você pode ver que a decisão pelo confronto da polícia afeta
toda a comunidade. Infelizmente, boa parte da imprensa e da sociedade acredita
numa política da guerra, de que há uma guerra no Rio de Janeiro. A gente na
Faferj não concorda com essa questão da guerra", destacou.
"As favelas nunca declararam
guerra a ninguém. Nenhum favelado assinou nenhum termo declarando guerra contra
o Estado. O que existe é um ataque do Estado devido à morte de um
policial", disse.
"Lamentamos muito a morte do
policial Bruno no Jacaré. Um policial muito valoroso, um policial que fazia um
excelente trabalho, mas a comunidade não pode pagar pela morte desse policial e
por essas operações", acrescentou Fillipe dos Anjos.
Segundo ele, "já foram mais
de 10 dias de operações, foram 7 moradores mortos, algumas drogas e algumas
armas apreendidas e 27 mil alunos sem aula".
Fernando
Frazão / Fotos Públicas
Nas últimas semanas confrontos estão acontecendo
confrontos em pelo menos 9 comunidades das Zonas Norte e Baixada Fluminense:
Complexo do Chapadão, Manguinhos/Benfica, Higienópolis, Maria da Graça,
Rocha/Triagem, Jacaré/Jacarezinho, Complexo do Alemão, Del Castilho e Cachambi,
regiões que foram alvos de operação no último domingo (20).
O secretário-geral da Faferj
questionou também a efetividade dessas operações e forma com que estão sendo
implementadas. De acordo com ele, "a Faferj pauta que não se tenha
operações policiais sem um mínimo de planejamento nessas localidades" e
que "não tenha operações policiais no horário de entrada e saída das
crianças da escola".
"A gente afirma
categoricamente que não há guerra no Rio de Janeiro, a guerra é uma política da
força, não há guerra no Leblon, não tem guerra em Copacabana, porque tem guerra
no Jacaré? Por que uma criança de uma escola pública no Jacaré tem que ficar
sem aula? A gente acredita que não é esse o caminho que o Estado deve
tomar", concluiu.
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