Conflitos no espaço pós-soviético: por que vizinhos da Rússia não
conseguem viver em paz?
Neste ano
passam oito anos desde que rebentou a crise na Ossétia do Sul. Entretanto, esta
não é a única crise perto da Rússia que provoca atenção internacional. Vamos
rever os conflitos que são a herança desagradável do colapso da URSS.
A Sputnik acompanha de forma regular os
acontecimentos no espaço da antiga União Soviética, que abrange a Rússia,
Bielorrússia, Ucrânia, Moldávia, Geórgia, Armênia, Azerbaijão, repúblicas da
Ásia Central como o Turcomenistão, Cazaquistão, Tajiquistão, Uzbequistão e
Quirguistão, e três Países Bálticos – Letônia, Lituânia e Estônia. Neste espaço
há alguns conflitos congelados e outros que estão ativos e que resultaram do
grande número de territórios que aspiram ser reconhecidos internacionalmente
como independentes. São eles a República Moldava da Transnístria, República da
Abkházia, República da Ossétia do Sul, República de Nagorno-Karabakh e as duas
autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk. Também há o caso da
Crimeia que aderiu à Rússia. Este passo também não é reconhecido pela
comunidade internacional. A Sputnik apresenta as origens, razões principais e
perspectivas de resolução destes conflitos.
Transnístria
Moldávia
pede a OTAN para expulsar contingente russo da Transnístria A razão do conflito
da Transnístria é a discriminação dos russófonos na Moldávia no tempo anterior
ao colapso da União Soviética. As autoridades da Moldávia realizavam uma
política de “romenização” visando estreitar laços com a Romênia e mesmo aderir
a esse país como contrapeso à sua permanência na URSS. A região da Transnístria
sempre teve mais laços políticos e econômicos com a Rússia que com a Romênia.
Além disso, 87% da população da região falava russo. Em 1990, foi formada a
República Moldava da Transnístria que proclamou sua independência. Os protestos
e confrontos esporádicos continuaram a partir de 1989. A fase militar do
conflito durou desde março até 1 de agosto de 1992. Morreram cerca de 2 mil
pessoas. A paz foi reestabelecida pelos esforços da Rússia, que até agora faz
parte das forças de paz em conjunto com a Moldávia e a República Moldava da
Transnístria. A Moldávia recusa reconhecer a independência dessa região
russófona. As propostas da Rússia para a criação de uma federação da Moldávia
com a região da Transnístria não foram acolhidas. O conflito permanece congelado
e agora, pelos vistos, não há quaisquer perspectivas para sua resolução.
Geórgia
espera rever resultados da crise de 2008 com Rússia Estas repúblicas
proclamaram a sua independência da Geórgia como resultado da crise
russo-georgiana de agosto de 2008. As origens do conflito também estão ligadas
ao fim da URSS, no início dos anos de 1990, quando as autoridades aspiravam
ganhar independência da União Soviética sem conceder autonomia às regiões com
minorias étnicas, incluindo a Ossétia do Sul. A região se proclamou uma
república em 1989 e permaneceu na União Soviética em 1991, quando a Geórgia
obteve independência. As operações militares continuaram desde 1991 até julho
de 1992. Mais de mil ossetas foram mortos. Na região foi instalada uma missão
da OSCE. Nos anos de 2000, o novo presidente georgiano, Mikhail Saakashvili,
que chegou no poder em 2004, começou a realizar uma linha política de unidade
territorial do país. O culminar desta política foram as provocações georgianas
contra a Ossétia do Sul em julho-agosto de 2008. Em 8 de agosto, o Exército da
Geórgia lançou uma ofensiva contra a capital da Ossétia do Sul, Tskhinval.
Também foram mortos alguns elementos de forças de paz russas deslocadas para a
região. Naquele momento, na república, bem como na Abkházia, muitos residentes
conseguiram obter cidadania russa. Para proteger os seus cidadãos e os ossetas
da agressão georgiana, a Rússia enviou tropas para a zona de conflito, que
terminou em 12 de agosto. A Rússia e a Geórgia assinaram um acordo de paz com
seis princípios de regularização. Abkházia População da Abkházia comemora o
reconhecimento de sua independência pela Rússia © Sputnik/ Vladimir Popov
Abkhásia não pretende se tornar região da Rússia O conflito interétnico entre a
Geórgia e a Abkházia continuou durante todo o período soviético. As tensões
começaram se agravando em 1989, quando o povo abecásio pretendeu sair da
Geórgia. Os confrontos continuaram até 1992, ano em que se desenrolou uma
guerra. A Geórgia não queria a desintegração do país e a Abkházia se manifestou
por mais autonomia e a independência como seu objetivo final. O cessar-fogo foi
estabelecido em 1993. O conflito levou as vidas de mais de 8 mil pessoas de
ambos os lados. Para a região foram enviadas forças de paz da Rússia. Depois de
períodos de confrontos e tensões, bem como o conflito de 2008, a Rússia
reconheceu em 26 de agosto as independências da Ossétia do Sul e da Abkházia. A
resolução da crise pode ser o reconhecimento internacional da independência
dessas repúblicas. Até agora, somente cinco países reconheceram o novo estatuto
da Abkházia e quatro – o da Ossétia do Sul. Nagorno-Karabakh Projéteis de
artilharia usados em posição de fogo na povoação de Magadis, na zona de
conflito de Nagorno-Karabakh, 5 de abril de 2016 © Sputnik/ Rússia fecha os
olhos a atrocidades à sua porta? Há muito tempo que a Armênia e o Azerbaijão
têm uma disputa sobre a pertença de Nagorno-Karabakh. A Região Autónoma de
Nagorno-Karabakh, criada ainda nos tempos soviéticos, tinha uma população
principalmente da etnia armênia. Os armênios sempre se queixaram da discriminação
dos seus direitos, sendo parte do Azerbaijão. No fim de 1980, a região lançou
uma tentativa de entrar na Armênia ainda no âmbito da URSS. Este passo provocou
tensões na região e confrontos de base étnica em ambas as repúblicas
soviéticas. Em 1991, Nagorno-Karabakh se expressou em referendo pela saída do
Azerbaijão, o que provocou um conflito sangrento em maio de 1994. O conflito
levou as vidas de 24 mil pessoas. A nova fase do conflito, que se iniciou em 2
de abril, é a mais violenta desde a entrada em vigor do cessar-fogo em meados
dos anos de 1990.
Poroshenko
acha 'extremamente difícil' recuperar Crimeia e Donbass As autoproclamadas
repúblicas populares de Donetsk e de Lugansk surgiram ao longo do conflito no
Leste da Ucrânia. Esse conflito foi o resultado da mudança de poder na Ucrânia,
depois de o presidente ucraniano Viktor Yanukovich desistir de assinar o acordo
de associação entre a Ucrânia e a União Europeia no fim de 2013. A nova
liderança não representava os interesses das regiões russófonas e ali não
ganhou popularidade. Na região leste da Ucrânia chamada de Donbass se iniciaram
protestos contra a discriminação dos russófonos. Em abril de 2014, foram
proclamadas a República Popular de Donetsk e a República Popular de Lugansk com
as suas próprias estruturas de poder e seus exércitos. Em resposta, a Ucrânia
anunciou o início de uma operação antiterrorista contra o seu próprio povo. Em
maio, nestas repúblicas foram realizados referendos sobre a autodeterminação. O
povo das regiões se expressou pela soberania e adesão à Rússia. Depois dos
referendos, a Ucrânia declarou oficialmente as duas repúblicas como organizações
terroristas. As ações militares continuam até agora. Os países ocidentais
acusam a Rússia de se ter envolvido no conflito. Em fevereiro de 2015, um grupo
formado especialmente para a resolução do conflito ucraniano – o Quarteto da
Normandia (Rússia, Ucrânia, França e Alemanha) – elaborou um acordo que foi
assinado pela Ucrânia, Rússia e repúblicas de Donetsk e Lugansk. As disposições
principais dos acordos de Minsk – o cessar-fogo e o estabelecimento de estatuto
especial para as repúblicas dentro da Ucrânia – ainda não foram realizadas.
Pelos vistos, este acordo apresenta um plano real de resolução, mas muito
depende das autoridades ucranianas que agora continuam matando e descriminando
a população russófona da Ucrânia. Dois dos conflitos enumerados têm caráter
interno – na Transnístria e no leste ucraniano. A resolução de outro conflito
depende muito da decisão da comunidade internacional – a independência real
permitirá à Abkházia e Ossétia do Sul desenvolverem seus próprios laços
econômicos com o mundo e se tornarem estados de pleno direito. O conflito de
Nagorno-Karabakh deve ser resolvido por ambos os países – o Azerbaijão e a
Armênia. Todos estes conflitos podem ser considerados consequências diretas ou
indiretas do colapso da União Soviética, que deixou muitas tensões interétnicas
nos territórios em que se formaram novos estados independentes.
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mais: https://br.sputniknews.com/sputnik_explica/20160823/6118059/conflitos-vizinhos-da-russia.html
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