Guerra
das Malvinas: 34 anos depois, ainda uma ferida aberta
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2016/ Juan Mabromata
Argentina celebra neste sábado, 2 de abril, 34 anos
do início da Guerra das Malvinas, conflito com a Grã-Bretanha em 1982.
Embora tenha durado pouco mais de dois meses, a
guerra marcou toda uma geração de argentinos e o início do processo de
redemocratização do país, com a queda do regime militar após a rendição em 14
de junho.
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2016/ HO/NASA
A polêmica sobre a soberania das ilhas Malvinas, ou
Falklands, como são chamadas pelos ingleses, remonta ao século 19. A Argentina
sempre alegou ter herdado as ilhas da Espanha em 1816, mas os ingleses
justificam sua posse por administrarem as ilhas desde 1883. Malvinas ou
Falklands se situam a 480 quilômetros da costa da região patagônica em uma área
considerada de boa pesca e com algumas reservas de petróleo.
No início desta semana, a
Organização das Nações Unidas (ONU) deu aval à argumentação apresentada pela
Argentina em 2009, reconhecendo o direito do país em ampliar de 200 para 350
milhas náuticas sua soberania marítima, como previsto na Convenção do Mar. Na
prática, o anúncio da ONU reconhece haver conflito de interesses na região.
Ainda segundo a ONU, dos 16 territórios colonialistas hoje no mundo, a
Grã-Bretanha responde por nove.
Para lembrar aquele tempo de
combates, perdas e transformações na vida política e social da Argentina,
Sputnik Brasil ouviu uma das testemunhas do conflito, Carlos Jorge Sili, membro
da Associação dos Veteranos da Guerra das Malvinas, à época com 18 anos e
integrante dos Fuzileiros Navais, os primeiros a desembarcar na zona de
conflito.
“Minha unidade era o Batalhão de
Infantaria da Marinha N.o 5, que chegou às Malvinas em 5 de abril para formar
parte da defesa das ilhas. Ocupamos as posições principais em Puerto
Argentino, onde as primeiras baixas foram nossas. Eles (ingleses) tinham
maior número de efetivos e de equipamentos, mas nós dominávamos os terrenos. E
tanto foi assim que, quando houve a rendição em 14 de junho, eles ficaram
surpresos, porque estavam quebrados em termos de logística. Eles perderam
barcos importantes, que foram postos a pique.”
Sili reconhece que, apesar das desvantagens, inclusive numéricas, a
moral da tropa era elevada. A volta, porém, foi problemática.
“O retorno foi caótico, porque a
sociedade naquele momento não queria saber de nada, tínhamos sido derrotados,
ela não queria reconhecer o veterano de guerra, e por isso custou muito a
reinserção à sociedade.”
Apesar de ter testemunhado a
violência do conflito, Sili, hoje com 52 anos e jubilado, defende o serviço
militar obrigatório para todos os países, mas reconhece que, naquele momento, o
regime militar não podia continuar, porque era necessária a volta da
democracia.
“Nenhum país que tem um governo
militar tem boa condução, porque o militar não está preparado para conduzir um
país. O militar é para cuidar do país, não conduzi-lo.”
Sili também faz uma revelação
surpreendente e diz que, infelizmente, a Guerra das Malvinas abriu espaço para
reivindicações de aventureiros.
“As pessoas que ocupam a Praça de
Maio e se dizem veteranos não são veteranos de guerra. São pessoas que ficaram
deste lado do continente e não lutaram nas Malvinas. São pessoas oportunistas
que estão tentando ser reconhecidas como veteranos. Elas foram mobilizadas
dentro do território, mas não foram às Malvinas.”
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2016/ JUAN MABROMATA
Passadas mais de três décadas, o veterano das Malvinas defende a invasão,
mesmo reconhecendo o alto preço que o país pagou.
“O conflito teria que acontecer
em algum momento, porque a Inglaterra, como é de conhecimento de todos, é um
país invasor, não tem territórios próprios e por isso busca os distantes. Vão
se cumprir 150 anos de usurpação permanente das Malvinas. Se a Argentina não
tomasse a iniciativa de recuperar o que é nosso, a ilha ficaria permanentemente
para a Inglaterra.”
“Trinta e quatro anos depois
sabemos que nenhuma guerra é boa, porque deixa sequelas, perda de vidas e muita
dor entre os familiares. Cabe a este Governo ou a outro que venha, de forma
diplomática, recuperar o que nos pertence.
Início e
fim dos combates
O conflito em torno das Malvinas
começou quando tropas argentinas tomaram Puerto Argentino (Port Stanley), a
capital do arquipélago, em 2 de abril de 1982. A resposta da Grã-Bretanha foi
imediata, deslocando para o Atlântico Sul uma força-tarefa com 28 mil homens,
quase quatro vezes maior do que o contingente argentino.
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A luta foi desigual desde o início, não só pela
superioridade numérica dos britânicos como também pela qualidade e quantidade
de armamentos. No campo diplomático, a esquadra britânica recebeu toda a
colaboração de inteligência e de logística dos Estados Unidos.
No dia 25 de abril, tropas
britânicas desembarcaram na Ilha Geórgia do Sul e prepararam a contraofensiva
com o apoio logístico também da Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN). Houve perdas pesadas de ambas as partes. Do lado argentino, o torpedeamento
do cruzador “General Belgrano” causou a morte de 386 tripulantes. Os britânicos
perderam o destróier “Shefield” e outros navios, além de alguns caças abatidos
pela artilharia antiaérea. O avanço britânico cresceu em 21 de maio, com o
desembarque de mais tropas no lado oriental das Malvinas, e prosseguiu até a
rendição das tropas argentinas em 14 de junho.
O saldo final dos combates para a
Argentina foi de 649 mortos e um número não revelado de feridos. Os britânicos
contabilizaram 255 mortos e 777 feridos. O custo da campanha foi avaliado em
US$ 5 bilhões. Politicamente, a Primeira-Ministra Margareth Thatcher consolidou
seu poder de influência na Europa, e do lado argentino a derrota contribuiu
para acelerar a queda da ditadura militar.
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